Paulo Vivacqua | texto da exposição

VISITA

O universo criado por Eva Klabin na casa-museu que leva seu nome e, agora, dinamizado com o Projeto Respiração, solicita do artista que ele perceba tanto a residência quanto a coleção como elementos de sua obra. Não basta simplesmente inserir mais um trabalho em meio às centenas de obras de arte do acervo. É necessário que o artista faça extrações poéticas e metafóricas dessa situação.
O som na obra de Paulo Vivacqua não é uma trilha sonora para a casa-museu de Eva Klabin. Ao pontuar a casa com som, está criando um condutor para o olhar ao mesmo tempo em que nos convida a penetrar na profundidade do espaço. Ele não está ilustrando, mas tecendo uma narrativa que deverá ser preenchida por nossa imaginação e sensibilidade. Sua interferência é sutil e tem a mesma densidade de propósito do último ato da vida de Eva Klabin, que foi o de musealizar sua existência. O convite de ambos é claro: entrem e participem de meu universo pessoal; entrem e criem suas próprias narrativas. Visitem. Por isso, VISITA.
A obra de Paulo Vivacqua, assim como nós, visita a coleção e se comporta como tal. Respeita os espaços e a lógica expositiva da fundadora, sugerindo desvios, pontuações e comentários. O artista utiliza a sua obra como um fio condutor de sussurros que nos guia na profundidade do espaço desta residência. Seus sons e silêncios são como revelações de segredos que nos permitem ver melhor a coleção. Por meio do som, em que a arte é mais etérea, conseguimos perceber o significado das artes plásticas como estruturas de ancoramento de sentidos na matéria. Os fios, os alto-falantes, as placas de vidro e os monitores utilizados pelo artista, têm a função de nos lembrar dessa dimensão. Paulo Vivacqua cria sentidos quase sem interferir na estrutura da coleção ou da casa. Apenas indica que, como os seus sons, podemos também nos envolver com a ambiência criada por Eva Klabin como uma forma de ver melhor os objetos por ela reunidos ao longo de 70 anos de colecionismo.

Marcio Doctors
Curador