Lançamento do filme A sensibilização do espaço

























É hoje, sexta feira 29/04/2011, o lançamento do filme A sensibilização do espaço, de Claudia Bakker, realizado na Oficina do Projeto Respiração na Biblioteca Parque de Manguinhos
Saiba mais clicando aqui

13ª edição | Carlito Carvalhosa | Galeria de fotos da abertura

Confira a galeria de fotos da abertura da 13ª edição do Projeto Respiração na nossa página no facebook
http://www.facebook.com/media/set/?set=a.10150175016776162.322166.117345281161
aproveite e torne-se um fã da Fundação Eva Klabin

13ª edição do Projeto Respiração | Carlito Carvalhosa













Carlito Carvalhosa

Regra de dois

curadoria
Marcio Doctors

de 27 de abril a 26 de junho de 2011

Saiba mais

Leia o texto do curador e veja as fotos

O Projeto Respiração oferece oficinas para comunidades carentes









Oficinas do Projeto Respiração

A 13ª edição do Projeto Respiração conta com o patrocínio da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro e, em 2011, será ampliado para comunidades carentes da cidade, através de oficinas de artes. Serão oferecidas cinco oficinas e a primeira será realizada pela artista plástica Claudia Bakker, nos dias 5 e 6 de abril, na Biblioteca Parque de Manguinhos.

Oficina A sensibilização do espaço com Claudia Bakker

No dia 05/04, a museóloga Ruth Levy fará uma apresentação sobre a Fundação Eva Klabin e o Projeto Respiração – programa de intervenções de arte contemporânea, com a curadoria do crítico e curador da fundação, Marcio Doctors. A artista plástica Claudia Bakker, que participou da 6ª edição do Projeto Respiração, "Estados de Metáfora", com o trabalho Primavera Noturna, fará uma apresentação sobre seu trabalho e a proposta da oficina a ser realizada no dia seguinte. Na oficina do segundo dia, 06/04, Claudia trabalhará a percepção do espaço através de sua sensibilização como o elemento construtivo de uma instalação. Essa sensibilização será desenvolvida a partir da memória como lugar do sonho; dos sonhos que acreditamos ter quando estamos acordados, que são da ordem do desejo, e que intuitivamente aparecem com força em determinados momentos da trajetória da vida de cada um de nós. A partir desses elementos, será construída uma narrativa individual de um projeto para um espaço escolhido da biblioteca. Será um projeto/roteiro, podendo ser falado, escrito e/ou desenhado, e em conjunto com a artista pensar quais são as "coisas" do mundo que se adequariam a esse projeto para a concretização no espaço escolhido. Ao final, cada um fará uma apresentação da sua proposta que será filmada. O filme/documento desse encontro permanecerá em exposição na Biblioteca Parque de Manguinhos durante um mês. Os participantes serão convidados também a fazer uma visita guiada na Fundação Eva Klabin, conhecer sua coleção e ver a próxima edição do Projeto Respiração, “Regra de dois”, do artista Carlito Carvalhosa, que abrirá no dia 26 de abril.

Claudia Bakker - Uma das principais influências na obra de Claudia Bakker foi o convívio com a artista Lygia Pape, que foi uma grande incentivadora do seu trabalho. Mestre em Comunicação e Tecnologia da imagem pela ECO/UFRJ,sua pesquisa foi resultado das sensíveis experiências realizadas pela artista na natureza. A primeira instalação realizada por Claudia Bakker foi no Museu do Açude, no Rio de Janeiro, onde colocou 900 maçãs numa fonte de água natural em 1994. Nas suas instalações o repertório de materiais ora se repetem ora se intercalam em trabalhos que tem o tempo como questão. Com frequência mostra seu trabalho em exposições individuais e coletivas em importantes instituições como o Paço Imperial, Casa França Brasil, Fundação Eva Klabin, Museu do Açude, Winzavod Center of Contemporary art/Moscou, CarpeDiem/Lisboa , Baltic Library and Archive/Gateshead, dentre outras. Tem trabalhos em coleções particulares e públicas, com destaque para as de Gilberto Chateaubriand no MAM/RJ, Joaquim Paiva e João Sattamini e é representada no Rio de Janeiro pela Galeria Anita Schwartz. www.claudiabakker.com.br.

Oficina do Projeto Respiração - Claudia Bakker: A sensibilização do espaço - dias 05 e 06 de abril de 2010, terça e quarta feira, das 14h às 17h. Local: Biblioteca Parque Manguinhos – Av. Dom Helder Câmara, 1184.Tel: 21-2334-8915 e 2334-8916 - Inscrições no local – Realização: Fundação Eva Klabin - Patrocínio: Secretariade Estado de Cultura do Rio de Janeiro.

ANNA MARIA MAIOLINO | é

12ª edição - 10 de setembro a 30 de outubro de 2010











Anna Maria Maiolino | texto da exposição

é

“O ato de transcender a si próprio é,
por toda parte, o ato supremo –
o ponto originário – a gênese da vida.
Tal como a chama, que é um ato
semelhante.”
novalis

O desejo de Anna Maria Maiolino é tocar no que “é”. Mas o que significa isso? Significa dizer que a realidade é transparente, e o mistério, aparente. Significa dizer que Maiolino busca despertar, através de sua obra, o mistério como aparência. Talvez a imagem da primeira aparição de Deus a Moisés possa exemplificar metaforicamente o que estou procurando expressar. Deus se apresenta na imagem de uma sarça ardente. Um fogo que não consome o arbusto que está queimando e que quando perguntado por Moisés como deve apresentá-lo aos outros homens responde: diga que sou o que é. Em outras palavras, “o que é” é o mistério da essência. Não é imprescindível que a potência se realize – que se consuma –, mas é fundamental que a potência se revele como essência imanente. A aparência com que Deus se apresenta não é a do fogo que queima e destrói, mas a da força capaz de arder sem destruir: potência criadora. No episódio da sarça ardente, Deus torna aparente a sua potência como essência criadora, sem intermediações: simplesmente “é”.
O que Anna Maria Maiolino busca explicitar por meio de sua obra é, no Projeto Respiração, é a arte como energia criadora. O fogo simbólico de Prometeu, que é o desejo do homem de descolar-se do imediato da vida para atingir níveis de percepção mais apurados por saber-se consciente da vida, Maiolino introduz na sua videoinstalação através da figura feminina de vermelho que caminha silenciosamente levando adiante a chama do desejo criativo da paixão e do conhecimento. A artista projeta nessa figura a força da resistência e da permanência da arte, mas, ao mesmo tempo, habita a casa com sons que trazem de volta a vida nas suas múltiplas dimensões, que a casa ao tornar-se museu, paralisou. São sons que chamam pelo nome de Anna, pelo nome de Sandra, a performer; é o som da flauta de seu neto; são sussurros e falas incompreensíveis, respirações e suspiros; é a voz cansada de Anna declamando Santa Teresa de Ávila:

Vivo sem viver em mim.
E de tal maneira espero,
Que morro porque não morro.


é é uma espécie de resistência que a vida cria por superposições e camadas de sentido que Anna traz consigo e descobriu também ao conviver com a casa, que são os medos, os desejos e os sonhos de Eva Klabin. é é a misteriosa estátua de Santa Teresa de Ávila, que atrai tanto os visitantes do museu, recoberta por um manto vermelho durante a performance do dia da
inauguração. é é a cama de Eva klabin com uma colcha vermelha cheia de ovos, tributo da artista ao maior de todos os mistérios – a fecundação. é é mais que tudo não esconder o desejo e o mistério. É fazê-los cúmplices da arte e revelá-los sem temor, na sua transparência.
é é uma intervenção substantiva, que se pretende direta e indicativa, sem subterfúgios, porque busca explicitar o mistério; que é ser o que é. Não busca o ser das coisas, mas a pulsão que as habita, que não é outra coisa que não elas mesmas. Esse mundo blindado que a artista cria é de pura consistência metafísica, que ela nos apresenta despida de qualquer transcendência.
Maiolino, na sua intervenção, nos oferece uma multiplicidade de camadas de sentidos, reservando para cada um de nós a possibilidade de transitar pelos espaços da casa permitindo-se experimentar a difícil, delicada e arriscada experiência da imanência.
é é uma intervenção que não tem a pretensão de nos ensinar nada; ao contrário, quer simplesmente nos oferecer a possibilidade de experimentar o sentido da multiplicidade da diferença, que cada um de nós traz consigo por sermos singulares. Esse sentido único, que pertence a cada um de nós, é para Anna a possibilidade da experiência da diversidade. Esse uno que determina a diferença é a explicitação do mistério, que a artista tenta nos apresentar de
forma direta, simples e imediata na sua intervenção do Projeto Respiração. A casa de Eva Klabin permitiu que Maiolino lidasse diretamente com o outro, que é Eva, e descobrisse aqui, num tempo paralisado por uma vida, um desvio que nos permite nos questionar experimentando a diferença como mistério pulsante; carne do mundo.

Haverá tantos mistérios quantos indivíduos.
Haverá tantos sentidos quantos indivíduos: é...

Marcio Doctors

Anna Maria Maiolino | clipping


















O Globo - Segundo Cadermo - 04/11/2010

DANIELA THOMAS | SUBSTITUIÇÕES

11ª edição - 26 de junho a 15 de agosto de 2010















































































LILIAN ZAREMBA | EVASÃO

11ª edição - 26 de junho a 15 de agosto de 2010













































Daniela Thomas e Lilian Zaremba | texto da exposição

ROTEIROS IMAGINÁRIOS

O Projeto Respiração é uma espécie de processo de escavação ao contrário da casa, da coleção e da vida de Eva Klabin. Em vez de serem retiradas camadas de sentido para reconstruir a “ficção” de um passado que desconhecemos e que pertenceria às memórias da colecionadora, artistas são convidados a escavarem o presente e a acrescentarem camadas de sentido que construam uma “ficção” de futuro para o museu. Entendo o legado de Eva Klabin como sendo a criação de um mito atemporal, capaz de criar uma presença tão forte no imaginário das pessoas que tem a potência de alimentar o presente. E o Projeto Respiração surge como o pretexto [pré-texto] poético que contribui para liberar a imaginação dos artistas em relação ao outro distante: o murmúrio de uma personalidade que silenciou a si mesma nos objetos que a circundavam, emergindo ela mesma como um objeto de memória.

Quem é Eva Klabin? O que é esta coleção?

Deslocamentos incessantes que encontram respostas no impulso de perguntar. É nas indagações que se dá o encontro entre o sentido desencadeado pela colecionadora, que se construiu a partir do aprisionamento de obras de arte, e o sentido do artista, que aqui se vê diante da construção de uma vida e de uma coleção que agora lhes são entregues como objetos do imaginário. Corrente entrelaçada de desejos, pensamentos e memórias: filme mudo da existência; literatura sem palavras.

Eva: guardiã de imagens-tempo, que, ao apresentar o real como real e imaginário, retém o tempo da imagem no tempo da realidade de sua vida.

Projeto Respiração: território de errância, em que a ação / arte interfere na realidade da coleção, ao libertar as obras e a colecionadora da clausura do tempo e ao apresentar o imaginário como imaginário e real.

Realidade e imaginação conservam na casa-museu, como no cinema, a latência de um na manifestação do outro. Foi essa percepção que levou Daniela Thomas e Lilian Zaremba a costurarem realidade e imaginação através de um jogo de presenças e ausências, criando roteiros imaginários: Substituições e Evasão.

Há uma forte aproximação entre as palavras e as frases, escolhidas por Lilian Zaremba, da única gravação da voz de Eva deixada no final de sua vida, que preenchem o espaço da Sala Verde, e a ideia de substituir obras do acervo por sua descrição falada na ação de Daniela Thomas. Personalidade e coleção são interpeladas pelas intervenções das artistas. Nas duas, uma constelação de palavras pede a costura de uma paisagem mental que vai sendo desenhada à medida que é ouvida. Ao criarem lacunas que deverão ser completadas pela singularidade de cada um, sou levado a me perguntar sobre o sentido – a direção – da comunicação e da irredutibilidade entre as palavras e as imagens. Imagens e palavras são de origens e destinos distintos: quem as pode juntar é a imaginação e nunca a pretensa verdade que ambicionam.

O que faz ver são as palavras e não as imagens. Nas palavras há sobras; nas imagens, captura de presenças. As palavras existem porque esquecemos; as imagens existem porque queremos lembrar. Tanto uma como outra criam lacunas, as palavras porque para existirem precisam da generalização, que é uma seleção por abandono das diferenças; e as imagens porque necessitam do fragmento, que é um recorte do fluxo da diferenciação / tempo, imposto pelo sentido de totalidade que a aparição da presença estabelece. Ao sequestrar imagens da coleção, Daniela nos devolve suas presenças, nos incitando a vê-las por meio das palavras. Da mesma forma, Lílian presentifica na voz de Eva Klabin a captura de sua presença, tal como numa emissão radiofônica, fazendo que habite de novo o espaço da casa, que o conceito de museu sequestrou. Ambas invertem intercambiando a lógica e o mecanismo das palavras e das imagens, ao criarem paisagens imaginárias através do som.

O que diferencia a proposta de uma e de outra é que Daniela Thomas trabalha com a ideia de coleção e Lilian Zaremba, com a ideia de colecionadora.

[Substituições] Daniela Thomas propõe que imaginemos a obra na sua ausência. Sugere uma aproximação do acervo [a aproximação da escuta], solicitando atenção e concentração dirigidas que provocam um movimento de internalização, tanto de quem descreve os objetos de arte quanto de quem escuta a descrição. Ela evidencia que o sentido de uma obra se completa pela ação de quem a contempla. Sem o outro não há obra de arte. Ao polarizar esse pensamento, indica-nos que a arte é um espaço de acolhimento de uma temporalidade outra capaz de se contrapor à fragmentação do tempo dispersivo da atualidade, oferecendo um tempo concentrado e atento. Assim como Eva Klabin retira de circulação as obras do mercado para aprisioná-las na sua coleção, Daniela Thomas retira algumas obras do museu para prender a nossa atenção, preenchendo o espaço-visão da casa com o murmúrio-tempo das vozes.

[Evasão] Lilian Zaremba nos convida a entrar na Sala Verde, o espaço de transição entre o público e o privado, entre o auditório da Fundação e os aposentos de Eva Klabin. Escolheu essa sala por ser uma passagem entre dois mundos – a realidade e a imaginação – para evidenciar que um está contido no outro. A realidade da colecionadora que viveu nesta casa e a imaginação que envolve a personagem em que ela se transformou ao constituir um museu no espaço que residiu. A realidade de uma personagem e a ficção de uma vida. A casa-museu de Eva Klabin é tanto uma natureza-morta quanto uma still life. É algo que pertence a um tempo morto e também a um tempo que “ainda” está vivo e “parado”; por isso a razão da natureza-morta ou da still life feita de válvulas antigas de rádio, lembrando que a transmissão radiofônica é o som que atravessa o espaço e cria presenças; por isso a voz de Eva Klabin, como evasão desse espaço que a aprisionou na memória cultural e social que ela desencadeou. Sua voz nos traz de volta a still life que a natura-morta-museu nos privou, criando uma paisagem sonora que nos fala da passagem e da permanência de um tempo ainda vivo.

Substituições e Evasão nos falam de presenças que estão ausentes e de ausências que se fazem presentes, de realidades imaginadas e de imaginações reais, de palavras que fazem ver e de sons que constroem visões. Uma casa ocupada por murmúrios: literatura de imagens sonoras.

Marcio Doctors
Curador

DANIELA THOMAS | SUBSTITUIÇÕES

Texto da artista

Flana-se pela casa da Eva. Passa-se os olhos pelos objetos, pinturas, vitrines. Nos entretemos com as escolhas, com os cenários "à moda de": sala inglesa, renascença, chinesa. Há uma força magnética na casa, talvez centrífuga, nos empurrando todo o tempo em direção ao próximo quadro, objeto, ambiente. Não nos detemos. O próprio excesso e variedade de coisas nos movimenta para adiante. E mais adiante.

Meu impulso foi deter esse movimento. E se tivéssemos de dar conta de cada obra? Se tivéssemos que realmente parar e focar e submergir na obra? Propus a várias pessoas, entre artistas, jornalistas, cientistas, escritores, crianças, trabalhadores da própria fundação que tentassem DAR CONTA de um objeto que eu iria retirar da exposição e SUBSTITUIR com essa descrição gravada.

Imaginei questões que o projeto poderia suscitar:

1. um distúrbio à visita, já que as salas estarão obviamente "banguelas", com vazios preenchidos apenas pela pequena e desinteressante caixa de som, provocando uma interrupção no movimento centrífugo natural do visitante.
2. um distúrbio auditivo, já que a casa estará povoada de vozes todo o tempo.
3. um desafio à imaginação do visitante que se vê obrigado a projetar à partir da descrição que ouve, o objeto faltante.
4. um desafio à imaginação do "descrevedor".

Nessa última e central questão, o mais interessante desafio: como SUBSTITUIR, como DAR CONTA com palavras, da totalidade de uma obra de arte? Tarefa hercúlea e fadada ao fracasso, mas que provoca uma sorte de escolhas que evocam a própria história do pensamento em sua imensidão e fragilidade. Ficamos aí também à mercê dos excessos: descrever exaustivamente ultrapassa a obra? quando parar? O quanto de subjetividade é permitido? E desejável?

LILIAN ZAREMBA | EVASÃO

Texto da artista

...cette langue sera de l´âme pour l ' âme, résumant tout
parfums, sons, couleurs...
(Rimbaud, carta a Valery, maio,1871)

Um sinal é gerado por um processo: liga-se o rádio.
Ação realizada com sucesso, sinal aceito, sinal entregue.
Um evento cotidiano aparentemente sem importância... mas e se não houver um objeto, um rádio a ser ligado? Sinal de um rádio tomado como metáfora para transmissão, circuito, desarticulação, metamorfose, recepção, mutação. Radiofonia, domínio heterogêneo para além das concepções comuns da comunicação como mídia.

Um aparelho para colocar algum código pode também tornar-se um aparelho para decodificar mensagens... palavras guardam real significado na musica de cada voz, impressão sonora única, sinal marcado no tempo também enfronhado por escolhas pessoais. Estas, amordaçam o espaço nos objetos trajetos de uma vida inteira, transmitindo silencio ruidoso como naquele arranjo em cima da mesa, uma natureza morta – still life – interrompida por esta voz que insiste em existir...still, parada...still, ainda...
Ouvimos bibb do rádio relógio determinando os segundos, estes mesmos instantes subdivididos pelo tac tac do metrônomo. Mas este ritmo fechado em espaços precisos escapa de sua homogeneidade quando a voz de Eva, impõe seu próprio tempo, nos envolvendo em ressonâncias da memória. Aquela outra voz, repetindo as frases de Eva, se esforçando, obediente, para acompanhar o tempo preciso, é a voz radiofônica.
Perdida no trânsito das válvulas, objetos do cotidiano que também se esvaem na presença de substituições corpóreas (novas tecnologias?) já sugeridas naquele outro aparato nomeado ipod. Na tela deste pequeno ipod, enxergamos a areia caindo na ampulheta. O tempo escorre como sombra porque, embora lento, nossos olhos não conseguem distinguir cada grão de areia precipitado. Um milésimo de segundo? você ouve isso?
A primeira rádio, tocando o tempo aonde seu grau zero é aquela voz. A voz que irrompe “como espião” e transforma a homogeneidade do tempo, este que está sendo medido pela ampulheta, lançando seu próprio pulsar naquela sala verde onde o belo e grande relógio está parado. Ali, sempre será oito horas da noite...ela diria: “...ah! isso foi a vida inteira...”
Evasão... sonhar uma língua que decodifique este congelamento do espaço de uma casa-museu, captando outras mensagens naquela voz que ainda respira a natureza presente, escapando do cronômetro inaudível de um tempo que nos engole.

P.S. - e toda vez que alguém pergunta " isso é radio?" esta escuta ensurdece.

créditos:
um trabalho de Lilian Zaremba
áudios com frases faladas por Eva Klabin e repetidas por locutora, sob som constante de bibps da Radio Relógio e Metronomo, ecoados na Sala Verde (do museu) onde também se coloca sobre a papeleira uma "natura morta" composta por alto falante, válvulas de rádio transmissão e ipod com filme e trilha.
ficha técnica:
fotografia e filmagem : Lucia Helena Zaremba
edição do filme em ipod : Franscisco Cid Guimarães
iluminação : Fernando Sant' Anna
voz e supervisão de edição sonora: Adriana Ribeiro
editor de som : Alexandre Meu Rei (ECOSOM)
agradecimentos: Toni Godoy, Irene Peixoto, Alcimar Ferreira, Álvaro Barata

Daniela Thomas e Lilian Zaremba | clipping


O Globo - Segundo Caderno - 24/06/2010


O Globo - RioShow - 25/06/2010





















O Globo - Segundo Caderno - 28/06/2010

Daniela Thomas e Lilian Zaremba | abertura - galeria de fotos

Confira a galeria de fotos da abertura da 11ª edição do Projeto Respiração na nossa página no facebook
http://www.facebook.com/album.php?aid=186171&id=117345281161&ref=mf
aproveite e torne-se um fã da Fundação Eva Klabin

JOÃO MODÉ | INVISÍVEIS

10ª edição - 23 de maio a 26 de julho de 2009













































João Modé | texto da exposição

INVISÍVEIS

O Projeto Respiração chega a sua 10ª edição com João Modé, cuja intervenção reafirma os fundamentos desta iniciativa. A ideia do Projeto Respiração surgiu do modelo da tribo de Levi, a única, entre as tribos de Israel, a quem era interditado o direito de posse do território. Como sua função era eminentemente espiritual – de conservar os fundamentos do povo judeu – não se poderia correr o risco da territorialização. A tribo se constituía com base na ideia de um descolamento do território geográfico e assim poder instaurar e preservar o território religioso e cultural, que não deveria se enraizar para não se desviar de seu objetivo. A arte, assim como todos os outros movimentos espirituais e cognitivos do homem, constitui-se a partir de um desprendimento do dado imediatamente material. Saber conservar essa dimensão é a sabedoria capaz de guiar nossas percepções e sensações do mundo, sem se misturar com ele.
O que se pretende com o Projeto Respiração, seguindo a sabedoria da tribo de Levi, é oferecer ao artista um território ocupado pela história da arte e pela história pessoal da colecionadora, a partir do qual ele poderá exercitar a sua liberdade de produzir descolamentos de sentido poético e visual da forte presença material que o circunda. João Modé nos oferece obras que trabalham no limite entre os mundos da presença material e imaterial que emana dos objetos da coleção; entre o tempo do objeto musealizado e o tempo em que esses objetos eram parte da vida cotidiana da casa.
Sua primeira atitude foi escolher um dos espaços da casa para habitar. Sentiu necessidade de conviver na Fundação não só como museu, mas também como casa. Desejou aproximar-se do tempo quando a casa era moradia. Escolheu ocupar um dos sótãos que está fora do circuito de visitação e integrá-lo ao circuito, criando um espaço de suspensão onde o visitante poderá conviver com um tempo menos acelerado e de contemplação. Nesse lugar, João Modé se permitiu conviver com a ambiência da casa para se deixar levar pelo seu imaginário e descobrir novas paisagens físicas e mentais. Trouxe de volta os sons, os discos que ela escutava; os aromas, seu perfume predileto (Joy de Jean Patou) e sua flor predileta (antúrio). Experimentou o que é viver na penumbra, já que Eva Klabin trocava o dia pela noite. Enfatizou a presença de objetos duplos – que percebeu se repetirem na coleção –, criando um jogo de espelhamento entre eles, para nos lembrar, através da ideia da imagem refletida, a presença imaterial da matéria.
A intervenção Invisíveis é uma ação sutil e solicita uma atenção cuidadosa do público para distinguir o limite entre dois mundos: o dos objetos tais como ordenados pela colecionadora e os objetos submetidos à ação do artista, que buscou deslocá-los do registro da apreciação para o registro das sensações. Ao reativar espaços, vivências e sensações que estão fora do olhar do visitante, João desmusealizou a casa, trazendo de volta o tempo, paralisado por Eva Klabin ao transformar sua residência em museu.
Interessa a João Modé provocar, através de sua ação, as pulsões invisíveis que escoam por entre as obras de arte e os objetos da coleção, reativando as lembranças que secretamente os envolvem e fazê-las aflorar no imaginário dos visitantes, para que eles também se sintam mobilizados afetivamente pelo espaço e pelo tempo da casa-museu. Sua proposta se insere com pertinência e exatidão à proposta curatorial que visa a artistas sensíveis à percepção de que a casa-museu de Eva Klabin, antes de ser museu, foi um território habitado; um território cheio de recordações, memórias, vivências, que criam um pano de fundo para as obras de arte. A circularidade de sentido entre a fisicalidade das obras e suas emanações sensíveis – como resultado impalpável e imaterial das relações estabelecidas por Eva Klabin – constitui o campo de proposição estética do trabalho de João Modé e do Projeto Respiração.

Marcio Doctors
Curador

João Modé | clipping


Veja Recomenda - 24/06/2009

JOSÉ BECHARA | SAUDADE

9ª edição - 15 de novembro de 2008 a 01 de fevereiro de 2009












José Bechara | texto da exposição

SAUDADE

Quando pensei em Bechara para a 9ª edição do Projeto Respiração foi por causa do seu projeto A casa, que teve início em 2002, a partir de uma proposta em Faxinal do Céu, município de Pinhão (PR), com curadoria de Agnaldo Farias e Fernando Bini. Esse projeto, que ficou conhecido como Faxinal das Artes, propunha reunir uma centena de artistas durante duas semanas para ocupar uma vila residencial que havia sido planejada para a construção da usina Copel, que, em vez de ser destruída quando da finalização da obra, foi transformada em abrigo criativo para projetos educativos e artísticos.
José Bechara foi convidado como pintor e saiu da experiência como escultor. Para aquém dessa generalização retórica, o fato é que, por uma série de circunstâncias, Bechara não conseguiu pintar, mas transformou a casa que estava ocupando em um manifesto plástico em que os móveis da casa foram expelidos pelas janelas e portas. Através deste ato de revolta formal e sígnica, o artista conseguiu expandir e requalificar o sentido de sua obra.
Ao contrário do que se poderia imaginar de imediato há uma forte relação entre suas “pinturas” feitas a partir de lonas de caminhão, peles de animais ou processos de oxidação, e o projeto A casa. Quem nos fornece a chave para decifrar esse enigma é o próprio artista em entrevista a Gloria Ferreira, no livro publicado pela editora Dardo sobre sua obra: “Essa experiência tem a ver com a origem da minha pintura – a lona de caminhão usada, a transformação do aço, o seu processo de oxidação: desviar uma determinada matéria de seu destino”.
“Desviar uma determinada matéria de seu destino” é a operação formal e conceitual que Bechara propõe quando lonas de caminhão abandonam a função a qual estavam destinadas e passam a operar no registro da arte como passagem de tempo; ou quando a casa, feita para acolher, se revolta contra seu destino e expele para fora o mobiliário, subvertendo a relação continente/conteúdo. Isso é possível porque Bechara recupera a irredutibilidade da matéria como forma: a lona de caminhão é tela; as manchas, abstrações informais; os móveis, estruturas geométricas. Ao operar a matéria como pura forma, ele atribui para ela caráter sígnico, capaz de provocar novas dobras de sentido. Só que esse desvio é mais propriamente um desvio em direção a si mesmo, no sentido de reduzir o objeto ao seu aspecto formal, e transformá-lo, assim, em matéria-prima para a arte: a cadeira é feita para sentar, mas, quando o artista exorbita a sua função, ela passa a ser capaz de indicar, por meio de uma operação conceitual e física de expulsão, a idéia de tensão e não de conforto, que lhe é própria,
Da mesma forma, a proposta do Projeto Respiração é buscar desvios a partir de uma situação de casa-museu de colecionador. É como se não bastasse o sentido expositivo instaurado por sua instituidora e fosse necessário desviá-lo do destino proposto por Eva Klabin para aproximá-lo do sentido original de que um museu é uma estrutura que necessita sempre ter seu sentido atualizado. E, assim como todos aqueles que têm participado do Projeto Respiração, José Bechara também adicionou mais uma camada de sentido para a coleção.
Para além da associação imediata entre uma casa-museu e o projeto A casa, o que me levou a convidar Bechara para participar do Projeto Respiração foi que a lógica implícita na sua ação artística – tal como a descrevemos – comporta desdobramentos capazes de aceitar o desafio de trabalhar com uma casa, uma coleção e uma personagem, sem ter de repetir a dinâmica da contenção/explosão/expulsão, que, por motivos óbvios, seria impossível de ser aceita em um museu.
A intervenção proposta por José Bechara é resultado de uma conversa em que comentei que tinha a sensação de que Eva Klabin não havia morrido, mas que um belo dia decidiu ir embora, bateu a porta e deixou a casa tal como estava. Bechara, então, imaginou que a casa sentia saudade de sua antiga proprietária. Paredes, portais, escadas e armários embutidos se multiplicariam e preencheriam o vazio deixado por ela. Mais uma vez aqui a lógica foi a de desviar a matéria de seu destino. O que era uno é agora múltiplo. O que era objeto é agora sujeito.
A casa se replica porque sente saudade e quer preencher a falta que a saudade cria. Dessa forma, Bechara desconstrói o espaço, cria outro: metafórico e metafísico, como resultado da sua percepção de que quando Eva Klabin transformou sua casa em museu – ao musealizar sua existência –, criou um terceiro ente, para além da coleção e de sua residência, capaz de nos oferecer múltiplas percepções a respeito da vida, como o Alef de Borges. O gesto de Eva Klabin comporta uma visão lapidada que permite inúmeros reflexos de desdobramentos da realidade.
Através de Saudade, é como se todos os espaços da casa ficassem prenhes de sentido. Tudo passa a reverberar, e a casa adquire autonomia. A imaginação se sobrepõe à realidade. Os objetos adquirem vida. Como um corpo vivo a casa se desdobra buscando preencher o vazio que a ausência de Eva klabin criou. José Bechara desfaz o limite entre objetividade e subjetividade ao criar uma terceira via capaz de animar os objetos inanimados. Objetos capazes de sentir e que redefinem nossa percepção do espaço originalmente instaurado por Eva Klabin. O artista cria uma ficção barroca em que o mundo fala. Os objetos são ecos de si mesmos. O resultado, uma estética do excesso. A ferramenta de trabalho, o conceito. A execução, a redução da forma à sua condição radical de matéria. O método, o desvio.
Ele também cria um entrelaçamento, ou melhor, um campo de pulsões onde podemos localizar, ao lado da arte do passado, as manifestações contemporâneas, como a arte conceitual (o conceito preside a intencionalidade dessa interferência e legitima a idéia de desvio), a minimal art (a redução da forma à sua condição radical de matéria é a base sobre a qual se assenta a sua imaginação) e uma atalização do barroco, que é o curso subterrâneo que alimenta a imaginação de José Bechara e que direciona sua obra ao encontro de uma pureza que se esconde no excesso.

Marcio Doctors
Curador

José Bechara | clipping


O Globo - Rio Show - 21/11/2008